Webinar discute violência sexual de crianças e adolescentes


Webinar discute violência sexual de crianças e adolescentes em tempos de pandemia


FURNAS apoia programa Na Mão Certa desde 2009


Um webinar realizado por FURNAS nestsa sexta feira, 09/10, apresentou dados sobre o aumento dos casos de violência sexual de crianças e adolescentes durante a pandemia do novo Coronavirus. Eva Cristina Dengler, Gerente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, foi a convidada para falar sobre o assunto, apresentar dados e dizer como todo cidadão pode ajudar. A Childhood Brasil é a filial brasileira da entidade global fundada pela Rainha Silvia da Suécia, que atua para garantir a defesa dos direitos de crianças e adolescentes, com foco na prevenção e no enfrentamento da violência sexual.

Também participaram do evento a Superintendente de Comunicação e Relações Institucionais de FURNAS, Ana Claudia Gesteira, e a Assistente Social da Gerência de Responsabilidade Sociocultural, Claudia Tenório. Em 2009 FURNAS assinou um pacto apoiando várias iniciativas da Childhood Brasil, inclusive o Programa Na Mão Certa, mobilizanco funcionários, fornecedores e sociedade para denunciar casos de exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas.

“Diante do cenário atual de isolamento, temos vivido um aumento dos casos de abuso de crianças e adolescentes, abusos que na maioria das vezes acontecem dentro de casa. Com as crianças passando mais tempo na internet e sem a rede de apoio de professores e orientadores que a escola oferece, essas crianças estão mais expostas a riscos e a material pornográfico. Eu quero convidar nossos empregados e colaboradores a desenvolver um olhar mais cauteloso para as crianças à sua volta e a denunciar. Não podemos ser omissos, temos que esgotar todos os nossos recursos para garantir o direito dessas crianças serem ouvidas e protegidas”, disse Ana Cláudia.

Eva Cristina afirmou que o primeiro passo para proteger crianças e adolescentes é compreender as formas de violência às quais elas estão sujeitas. Basicamente a violência é classificada em quatro grupos. A primeira é a negligência, isto é, qualquer tipo de descuido ou abandono, ou falta de política pública ou de garantia de direitos. “Estamos falando de ausência de educação, saúde, convivência familiar ou comunitária, cuidados pessoais. Toda criança que convive com adultos que são negligentes com esses cuidados que uma pessoa em desenvolvimento precisa é enquadrada como vítima de negligência. Muitas das denúncias que existem hoje no país estão dentro desse grande guarda-chuva da negligência”, completa Eva.

As outras formas são a violência física, a psicológica - que tem se intensificado por conta das questões on-line; o bulling por exemplo é uma das grandes violências psicológias - e, por fim, a violência sexual. “Se a gente parar para pensar, vai perceber que a violência sexual é uma consequência da negligência, da violência física e principalmente da violência psicológica. A violência psicológica é a grande arma do abusador” explica ela.

A violência sexual se divide em abuso sexual e exploração sexual. A exploração sexual de crianças e adolescentes está dentro de um contexto de prostituição, que pode ser no turismo, nas estradas, em grandes empreendimentos, grandes obras, terminais logísticos, portuários, polos industriais e outros lugares de grande circulação de pessoas. A exploração sexual de crianças e adolescentes também tem conexões com o tráfico de pessoas, tanto interno quanto internacional, e também com o uso dessas crianças em materiais pornográficos, uma prática que vem crescendo dentro desse novo ambiente online.

O abuso sexual é aquela situação em que uma criança ou adolescente está sendo usado para satisfação sexual de uma ou mais pessoas mais velhas. “É importante esse conceito porque você pode ter uma situação de abuso sexual acontecendo de um adolescente de 16 anos abusando de uma criança de 8. Nenhum dos dois é adulto ainda, mas ambos estão em uma faixa de idade em que deveriam estar protegidos e já está havendo uma violação entre eles. Nem sempre quem abusa de uma criança é um adulto” explica Eva.

O abuso sexual vai sempre envolver uma questão de ameaça ou sedução, para manter um pacto de segredo, porque geralmente ele é cometido por alguém que a criança conhece ou confia. Grande parte das vezes o abusador é da família, mas mesmo quando o abuso é extrafamiliar, é alguém que a criança conhece e confia, e pode acontecer com ou sem contato físico. “Pode ser alguém de um curso que a criança esteja fazendo, pode ser alguém do condomínio, da rua onde ela mora, da comunidade onde ela vive” diz Eva.

Ao contrário do abuso, a exploração sexual envolve um pagamento, é um ato comercial geralmente praticado por adultos. Esse pagamento pode ser dinheiro, um prato de comida, uma carona, um presente ou até mesmo o ingresso em uma boate ou clube da moda. Trata-se de uma troca comercial, está dentro de um ambiente de prostituição, mas não é prostituição.

“No Brasil a prostituição é uma profissão reconhecida e considerada legal quando exercida de maneira independente por uma pessoa maior de 18 anos. Quando uma criança exerce isso, muitos enquadram do ponto de vista legal como trabalho infantil. Nós dos Direitos Humanos qualificamos isso como uma violação de direitos. Não foi uma escolha, a criança foi colocada naquela situação”, comenta Eva.

As consequências são devastadoras para a vida dessa criança. A violência sexual afeta todo o desenvolvimento físico e social desse indivíduo, sua autoconfiança, sua capacidade de confiar nos outros, além dos riscos de desenvolvimento de doenças sexualmente transmissíveis, de alcoolismo e uso de drogas, a evasão escolar, a gravidez precoce, o alto índice de tentativa de suicídio por crianças que não sabem lidar com isso e a perpetuação do ciclo continuo de violência.


Dados assustadores

Os dados da Childhood Brasil são assustadores:

  • 51 % das crianças abusadas no Brasil tem entre 1 e 5 anos.
  • 23 mil casos de violência sexual foram registrados no Brasil nos últimos cinco anos pelo Ministério da Saúde.
  • 49 mil denúncias de pornografia infantil na internet no mesmo período.
  • A cada hora, cerca de quatro crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil.
  • Apenas sete de cada 100 casos são denunciados.
  • O Brasil é o sétimo país em gravidez na adolescência e quarto em casamento infantil no mundo.
  • Um em cada três indivíduos on-line hoje são crianças e adolescentes.
  • Existem cerca de 75 mil denúncias de pornografia infantil apenas em 2019.
  • Atualmente há mais de 46 milhões de imagens e vídeos de abuso sexual de crianças nos arquivos da Europol.

A Assistente Social de FURNAS, Claudia Tenório foi a responsável por organizar as mais de 20 perguntas feitas durante o webinar. No geral as pessoas queriam saber como contribuir para diminuir essas estatísticas. 

“Todos nós temos crianças próximas. São filhos, sobrinhos, afilhados, ou convivemos com filhos de vizinhos, de colegas de trabalho, etc. A primeira coisa necessária é construir uma relação de confiança com essa criança. Converse com as crianças, explique os perigos, explique as partes do corpo que não podem ser tocadas, construa, junto com a criança, uma autonomia, a autoconfiança para dizer não. Lembre-a que ela pode se comunicar com você no caso de alguma agressão” explica Eva.

Segundo Eva, a forma mais importante de reconhecer se a criança está sendo vítima de algum abuso on-line é se aproximar. Conhecer os sites, conhecer os jogos, acompanhar a navegação dessas crianças e acessar tudo que a criança navegou e tudo que ela está fazendo. Mostrar interesse em conhecer, procurar saber quais crianças ela conhece pessoalmente e quais só virtualmente. “O contato muitas vezes acontece com adultos que se passam por crianças na internet. O acompanhamento e a denúncia são fundamentais”, complementa ela.

“Acessem no site da Childhood (childhood.org.br) uma série chamada “Crescer sem violência” com filmes para várias faixas etárias. Como abordar o tema com diferentes graus de profundidade. É preciso despertar nela a autoproteção. A chave é dizer para a criança que não existe segredo com nenhum adulto, sejam eles pais, tios, conhecidos ou desconhecidos”, recomenda Eva.


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